Newsletter #34 - O que aprendi com os Cisnes Negros
Em 2019, eu li um dos autores que mais mudaram a minha forma de pensar e até de agir. Aprendi conceitos aos quais sempre recorro na hora de tomar decisões difíceis, analisar oportunidades de emprego ou negócio, enfim. Ter esses conceitos claros, organizou minha forma de pensar e vou te apresentar aqui o pouco que aprendi com com esse cara.
O nome do autor é Nassim Taleb, um libanês, na casa dos seus 65 anos. Ele ficou rico trabalhando na bolsa de valores, mas se tornou famoso e reconhecido mundialmente pela sua produção literária e de suas críticas afiadas contra os analistas que desconsideram o acaso nas suas previsões. Para mim, sua obra mistura conceitos filosóficos com matemática, estatística, ceticismo científico, um olhar crítico e original sobre o mundo. Esse autor é a grande referência de investidores, grandes gestores e meu também.
Entre as obras de Nassim Taleb, a que eu mais gosto é o livro: "Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos". Gosto tanto desse livro que, até já pensei em tatuar a capa dele no antebraço, mas a ideia passou rápido. Apesar do meu gosto pessoal pelo conceito da antifragilidade, começar por ele iria ser difícil e, por um apego didático, nesta newsletter vou abordar o conceito original do Nassim que aparece no livro "A Lógica do Cisne Negro", publicado em 2007, obra que o tornou conhecido mundialmente.
O que são Cisnes Negros
Em 2007, Nassim previu (talvez o termo mais correto seja apostou) que o sistema econômico americano e mundial entraria em colapso e em 2008 o mercado americano ruiu e quase levou o mundo para segunda grande depressão. Ele investiu dinheiro nessa opção e quando aconteceu, Taleb ficou milionário "apostando" contra o sistema e contrariando a maioria dos analistas que juravam que a economia estava de vento em popa.
A esse tipo de evento, que é raro, catastrófico e difícil de ser previsto antecipadamente, ele deu o nome de Cisne Negro. São eventos muito difíceis de prever e que, quando chegam, mudam tudo. Justamente por serem raros, temos a sensação de que eles não existem. Um exemplo clássico usado no livro é a relação entre o peru (do Natal) e seu dono. A confiança do animal vai aumentando de forma progressiva, já que ele é sempre bem alimentado, bem tratado, vacinado, até o dia que antecede o Natal e o final você já sabe qual é. Os feedbacks positivos que o animal recebia do dono não o deixava perceber qual seria o fim da história.
Esse tipo de situação provavelmente já aconteceu na sua vida ou com alguém próximo, alguém que foi pego completamente de surpresa por uma situação imprevisível e que muda (negativamente) a vida para sempre. Mas, se os Cisnes Negros são imprevisíveis, de que adianta saber que eles existem se nada podemos fazer? Aí vem a parte boa do livro. Taleb nos mostra que, mesmo sem conseguir prever completamente esses eventos, ele nos lembra que esses eventos existem e que é possível reduzir a exposição a eles ou, pelo menos, reduzir seu impacto.
O que podemos fazer para evitar ou atenuar o impacto dos Cisnes Negros na nossa vida?
Não confiar apenas no histórico para prever cenários.
Pense na pandemia da COVID. A última vez que havia ocorrido uma pandemia daquela proporção foi em 1918–1919. Pelo histórico recente, não estávamos expostos ao risco de uma nova pandemia. O fato de não considerarmos esse tipo de risco fez com que o mundo inteiro estivesse despreparado para passar por algo semelhante.
Não aposte todas as fichas em uma única opção.
Sistemas que se baseiam em uma única alternativa são mais suscetíveis a Cisnes Negros negativos. Por mais estável que algo pareça, e mesmo que nunca tenha dado errado, pode acontecer. Lembre do peru de Natal.
No livro, Nassim dá o exemplo de um garçom com carteira assinada e de um taxista. Ambos, ao longo de um ano, ganham mais ou menos a mesma coisa. A diferença é que o garçom tem um ganho mensal mais previsível, enquanto o taxista possui uma renda mais variável. Segundo Taleb, apesar de o taxista estar mais exposto às variações, ele tende a perceber mais rápido quando o ponto não está trazendo clientes e pode agir imediatamente, buscando trabalho em outro local e recuperar seu ganho. Ou seja, por estar mais exposto à variabilidade, o taxista se mantém mais atento aos sinais do mercado e reage rápido.
O funcionário, por sua vez, pode não perceber a instabilidade do próprio emprego e ser demitido sem esperar, fazendo com que em um único evento tudo vá por água abaixo. Isso já aconteceu comigo e o que me salvou era ter várias fichas em outras opções.
Não confunda estabilidade com robustez.
Um sistema pode parecer estável por anos e, ainda assim, ser frágil. Estabilidade não é sinônimo de segurança. Muitas vezes, é apenas ausência temporária de estresse.
Tenha muito cuidado com as assimetrias negativas.
As assimetrias negativas são uma das piores armadilhas para empresas e negócios de forma geral. Assimetria nada mais é do que uma desproporção entre perdas e ganhos.
Quando a perda é conhecida e o ganho pode ser infinito, temos uma assimetria positiva e desejável. Exemplo: investir pouco dinheiro em algo de alto risco, mas com possibilidade de ganho gigantesco é uma boa forma de assimetria.
A assimetria negativa é o oposto: o ganho é pequeno e conhecido, enquanto o prejuízo é desconhecido e pode ser enorme. Entrar em uma sociedade em que o retorno é baixo, mas o risco de um processo trabalhista é alto e o prejuízo ser grande é um bom exemplo de assimetria negativa.
Outro exemplo prático de assimetria na área da saúde.
Quando a resposta positiva de uma intervenção é nula e os efeitos colaterais são desconhecidos, a assimetria é negativa. Sendo mais claro: prescrever um medicamento para dor em um paciente que não sente dor não gera ganho algum, mas expõe o paciente a riscos potencialmente graves, como uma reação anafilática, uma complicação inesperada ou qualquer outro efeito adverso que sequer conhecemos. Ou seja, quando o ganho é nulo, a assimetria é sempre negativa.
Busque assimetrias positivas de forma consciente.
Quando investi tempo e recursos na Evo, usei esse conceito de assimetria. O dinheiro que eu poderia perder era conhecido e, caso isso acontecesse, não me colocaria em uma situação difícil. Em contrapartida, os ganhos podem ser (e confio que serão) muito grandes, já que se trata de um sistema escalável. Na fisioterapia, existem muitos Cisnes Negros positivos. Para encontrá-los, é preciso abrir a mente, investir, estar disposto a perder e ter persistência para fazer dar certo.


Manter margem para variabilidade.
Um sistema sem variabilidade é um sistema frágil. Viver no limite, operar no máximo, treinar sempre no teto, trabalhar sem folga, sem reserva e sem plano B aumenta a eficiência no curto prazo, mas reduz brutalmente a capacidade de absorver choques. Sistemas sem margem não falham aos poucos, eles colapsam.
Interessante que isso vale para a variabilidade da FC e função autonômica. Quanto maior a VFC do indivíduo mais ele está preparado para passar por eventos estressores.
Proteger-se do que é mais perigoso e correr riscos controlados.
Concorda que não faz sentido uma pessoa ter seguro do carro e não ter da casa?. Ainda assim, estatisticamente, mais pessoas protegem o carro do que a própria casa. Perder a casa em um incêndio ou em uma tragédia climática inesperada é muito mais dramático do que perder um carro. Aqui, mais importante do que perguntar "qual a chance disso acontecer?"é se questionar: "o que acontece comigo se isso acontecer?" Profundo isso, né?
Espero que você tenha entendido que o ponto central desse conceito é: Cisnes Negros não avisam quando vão chegar, mas eles cobram um preço muito diferente dependendo de como você está posicionado. Saber disso não serve para prever o futuro, mas para ajustar decisões hoje, reduzir exposições perigosas e aumentar a chance de sobreviver — e continuar jogando — quando o inesperado aparecer. Como diz GIl: "mistério sempre há de pintar por aí"
Assimetria da CentralFlix
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Desejo que 2026 seja incrível para você.
Forte abraço.
Prof. Francisco Oliveira
Divulgador científico - Central da Reabilitação
